Coleção Clássicos da Literatura Juvenil

Apresentação e resenha dos livros da coleção editada pela Abril Cultural entre 1971 e 1973.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Volume 9 - O Capitão Tormenta - Emílio Salgari

O livro O Capitão Tormenta é o nono volume da série de Clássicos da Literatura Juvenil publicada pela editora Abril.

Escrito pelo visionário Emílio Salgari, um italiano que viveu de 1862 a 1911, a obra narra as aventuras de um certo Capitão Tormenta em meio às Guerras no Chipre, entre cristãos e muçulmanos, pela posse da terra. Era então o ano de 1571, e a Itália era senão um sonho inexistente. Em seu lugar, havia feudos e pequenos países, como é o caso de Veneza, conhecida então como República Veneziana e que, naquela época, reinava sobre o Chipre até ser derrotada pelos turcos, árabes e outros orientais, e ver suas tropas dizimadas pelo inimigo.

A história, repleta de aventuras e de uma rica descrição das armas, das vestimentas e dos paramentos da cavalaria e dos soldados, talvez não fosse tão interessante se a escolha do autor tivesse sido mais tradicional e ele optasse por revelar somente no fim que o tal Tormenta era, na verdade, uma belíssima jovem duquesa com inesperada e incrível destreza com armas. No entanto, o autor era tudo, menos óbvio: conhecido como o equivalente a Júlio Verne na Itália, então recém-unificada, se pensarmos em uma linha histórica, Salgari apostou na irreverência e deixou que o narrador revelasse, desde os primeiros capítulos, que a jovem não só era bela e corajosa, mas nobre de tradição e no coração que jamais permitiu a morte de outrem, ainda que muçulmano.

É, pois, a piedade da heroína, fielmente seguida e protegida pelo escravo El-Kadur, que salva sua vida, capítulos adiante, quando ela se vê presa em Famagusta, território que tentara a todo custo proteger e que é dizimado pelos muçulmanos, e depois sob o comando de Haradja, a cruel turca que tinha sob sua chibata o controle de prisioneiros de guerra, dentre os quais estava o Conde de Hussière. Era, afinal, por Hussière que a duquesa Eleonora D’Eboli angariara sua fortuna e contratara um exército que a seguisse até o local em que o Conde estava cativo. O ato de misericórdia em poupar a vida do capitão Maley-el-Kadel, valoroso nobre turco, quando o desafiou para um duelo de espadas e cimitarras, valeu-lhe não só o reconhecimento e a admiração, mas o amor e a lealdade, pois el-Kadel torna-se seu protetor e salvador não só da dama, mas do grupo de cristãos, renegados ou não, que com ela se encontra.

A riqueza de detalhes na descrição dos caminhos e dos contextos, bem como da organização social e militar dos povos do oriente muçulmano são, na verdade, resultado de anos de trabalho e de viagem do autor como funcionário da Marinha italiana, mas a imaginação – muitas vezes, exagerada e fantasiosa – é totalmente creditada ao escritor.

Outro ponto positivo dado a esta obra é que, diferentemente das histórias escritas atualmente (e, muitas vezes filmadas ou transformadas em séries de televisão), O Capitão Tormenta não exagera no final feliz a que as pessoas estão comumente acostumadas. Isso porque não só o final não é o esperado por todos, mas também porque o escravo El-Kadur, que secretamente nutria uma paixão avassaladora pela duquesa, morre em defesa da vida de sua patroa, em vez de, por exemplo, apaixonar-se depois por uma filha dela ou por outra pessoa qualquer. Desta forma, há um elemento de tragédia dentro desta história romanesca que respeita o fluxo narrativo e não ofende a inteligência daquele leitor atento às relações estabelecidas no romance.

Como é de se esperar, há o grande vilão – aqui, um polaco mercenário chamado Laczinki, que renega o cristianismo quando se vê capturado pelos muçulmanos, e passa a comandar exércitos de mercenários do oriente – e os seus comparsas, e todos encontram seu justo fim, embora seja na avalanche de aventuras episódicas, no ritmo frenético da narrativa e na riqueza de lugares e de povos e de cores e línguas que esteja o valor da obra de um escritor que deixou um legado deveras significativo para a literatura universal, mas morreu antes de ver muitas das maravilhas imaginadas por Verne e por ele mesmo realizadas pela Humanidade. Do mesmo modo, é uma pena que, hoje, poucos saibam da existência das obras de Salgari e que não as leiam, pois elas ainda são capazes de ensinar muito a respeito de aventura, de honra, de amor e de amizade.

Página de informações sobre o autor:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Emilio_Salgari

11 Comentários:

Blogger Paula Marcon disse...

Olha... eu já passei da idade de ler esses livros, mas sua resenha empolga! BJs

16 de março de 2010 às 02:40  
Blogger Fabiana Tavares disse...

Obrigada! Como eu disse no post inicial, a leitura é para todas as idades, e espero que você consiga se dar o direito de ler estes -- e outros -- livros, quando puder! Beijos!

16 de março de 2010 às 09:33  
Blogger Unknown disse...

Fabiana, valeu pelas dicas.
Tem como vc postar a lista de livros q compõem a coleção? São 50 livros, certo?
Bjs.

18 de março de 2010 às 13:50  
Blogger Cris disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

5 de novembro de 2010 às 21:52  
Blogger Cris disse...

sse livro foi o primeiro que comprei na vida. :). realmente ele ñ tem aquele final feliz básico. fica a dúvida do ar. será que eles conseguiram fugir? o que vc acha, Fabiana?

5 de novembro de 2010 às 21:53  
Blogger Fabiana Tavares disse...

Olá, Cris. Acho que no final eles fogem, de uma maneira ou de outra. O trágico está na morte do fiel servidor, e para uma literatura romanesca, esse já é um grande elemento de "realismo", por assim dizer. Obrigada pela visita! Apareça mais vezes ;)

7 de novembro de 2010 às 17:18  
Blogger Unknown disse...

Obrigado pelo resumo emplogante da história! Eu tenho 30 anos e continuo a ver e reler os livros de Emilio Salgari. São simplesmente fantásticos. E concordo plenamente que ele não se fica atrás de Júlio Verne de quem também sou ávida leitora.

3 de maio de 2014 às 17:46  
Blogger David da Silva disse...

Este foi o livro mais empolgante na minha adolescência. Resenha maravilhosa, esta sua, Fabiana.

26 de setembro de 2014 às 11:18  
Blogger alessia disse...

Eu já li esse livro quando mais nova, e estou louca para ler novamente

18 de novembro de 2015 às 13:18  
Blogger Valdir Fernandes disse...

Quando eu comecei a ler esse livro achei que não fosse interessante porque não entendia o conteúdo da história. Mas agora posso dizer que é o melhor livro que eu já li.

30 de julho de 2016 às 10:01  
Blogger Mag disse...

já li, amo muito esse livro e pra quem gosta desse tipo de livro com romance, aventura. raiva, indignação, paixão vai amar esse livro, podem confiar :3

3 de setembro de 2016 às 22:02  

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