Coleção Clássicos da Literatura Juvenil

Apresentação e resenha dos livros da coleção editada pela Abril Cultural entre 1971 e 1973.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Volume 42 - Os piratas da Malásia - Emílio Salgari

Emílio Salgari, escritor italiano que viveu na virada do século XIX para o século XX, aparece pela terceira vez na coleção Clássicos da Literatura Juvenil, agora com a história de Sandokan, famoso líder dos piratas, conhecido como Tigre da Malásia (Tigre da Malásia é, aliás, o primeiro livro em que Sandokan aparece, mas não foi publicado nesta coleção).

O fiel leitor da coleção abre as páginas do livro já preparado para a série de aventuras e intrigas que a narrativa traz, e não é decepcionado. De fato, o livro já tem início com a chegada de um servo indiano e sua jovem senhora enlouquecida pelas experiências traumáticas e pelo sumiço do noivo, e a busca que Sandokan empreende à procura do moço. Isso porque a moça é prima de sua finada esposa, e ele havia prometido à mulher que a protegeria.

A procura pelo rapaz indiano é longa e toma grande parte do livro. Envolve desde espionagem, pilhagem de navios e experiência de quase-morte à la Julieta (sim, aquela que toma um remédio para se fingir de morta, na peça de Shakespeare) a naufrágios, prisão, disputas, lutas e resgates de prisioneiros. Nesse ínterim, o leitor é convencido de que, no caso de Sandokan, pirataria não é para realizar maldade e tampouco somente visa à riqueza. Ele o faz para proteger amigos e porque encontrou na pirataria um modo de continuar a reinar, uma vez que fora um rajá e teve sua família assassinada antes de ter tido seu poder sobre a ilha de Bornéu usurpado. Além disso, é através de seus feitos que consegue restabelecer a ordem na região, desafiando o rajá inglês James Brooke, que toma o poder para si ao destituir um rajá local, realizando assim uma ação semelhante àquela sofrida por Sandokan. Ora, acontece de, durante o restgate do indiano, Sandokan conseguir libertar o rajá preso, atacar a ilha de Sawarak e destituir de fato o poder de Brooke. Porém, como herói que é nesta história, e sendo ele dono dos valores morais que casam com os feitos heróicos, o Tigre da Malásia liberta Brooke e o aconselha a fugir antes que o jovem rajá libertado retorne e reclame sua cabeça.

De certa maneira, a estrutura de Os piratas da Malásia se assemelha bastante à daquela de O corsário negro. Falo, particularmente, de personagens que tiveram suas famílias assassinadas e cuja personalidade é misteriosa e muito reservada. Assim se apresenta tanto Emílio de la Roccanera quanto Sandokan. Do mesmo modo, ambos empreendem um resgate arriscado, que resulta em lutas, mortes, incêndios, sequestros de navios e naufrágios. Finalmente, ambos buscam destituir o poder dos opressores -- um prometeu matar Wan Guld, o governador-geral da ilha, o outro ajuda a restaurar o poder da ilha ao verdadeiro rajá, fazendo com que o James Brooke abandone o posto e, também suas riquezas.

Entretanto, numa coleção em que tanto já se falou em navegação, aventuras e feitos heróicos em prol do benefício de outrem, o leitor não questiona a validade da pirataria ou os seus valores, porque elas aqui encenam os valores dos pobres e/ ou dos marginalizados, e aqueles que figuram como os piratas que saqueiam, matam e usam de crueldade são mortos em consequência das suas próprias ações, como é o caso dos trezentos prisioneiros que seriam encarcerados em Norfolk, na Austrália, e Sandokan liberta em meio a um levante no navio que ele havia planejado. Continua-se, deste modo, a perpetuar para os jovens leitores a fantasia que, no todo, permeia a idealização da figura do pirata solitário. No fim, não é nada além disso que a coleção -- ou os leitores -- parecem desejar, pois quando o mundo já é tão ruim, é sempre um alívio encontrar nas páginas de um livro a fuga e o mínimo de justiça social.

Fonte de informações sobre o autor: http://pt.wikipedia.org/wiki/Emilio_Salgari



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