Coleção Clássicos da Literatura Juvenil

Apresentação e resenha dos livros da coleção editada pela Abril Cultural entre 1971 e 1973.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Volume 36 - O corsário negro - Emílio Salgari

As aventuras marítimas são bastante recorrentes na coleção Clássicos da Literatura Juvenil, e não é para menos: elas foram responsáveis pelo enriquecimento e pela expansão de muitas nações, bem como foram a ruína de muitos povos. Graças a elas, nações inteiras foram escravizadas, tribos dizimadas, homens foram abandonados em ilhas desertas, e muitos alimentos exóticos, animais e jóias, dentre incontáveis bens, foram comercializadas através das águas salgadas dos sete mares.

Neste espírito é que o leitor encontra a narrativa d'O corsário negro (originalmente publicado em 1898), do escritor italiano Emílio Salgari -- que, as propósito, já esteve presente na coleção com o nono volume, Capitão Tormenta. Historicamente situado no século XVII, quando Luis XIV da França e Felipe IV de Espanha negociavam a paz lá para os idos de 1760, na Guerra de Flandres, o livro apresenta a história de vingança do gentil-homem Emílio de Roccanera, senhor de Valpenta e de Ventimiglia, cujos irmãos haviam sido assassinados por ato de traição e vingança de um certo conde Wan Guld, governador de Maracaibo. Atualmente, Maracaibo é a segunda maior cidade da Venezuela, mas naquela época de ouro da pirataria, era um importante posto comercial e de colonização, justamente por estar entre o Golfo do México e as ilhas caribenhas. Esse é o espaço em que o Corsário Negro, que faz jus ao apelido por causa de sua indumentária toda negra, seu porte de nobre e sua triste e solitária figura, luta para obter justiça.

O livro divide-se, basicamente, em três grandes momentos. No primeiro momento, o corsário negro, com a ajuda de dois marinheiros e de um negro da ilha, entra em Maracaibo sorrateiramente para resgatar da forca o último dos três valentes irmãos mortos por Wan Guld. É nesta parte que, baseando-se em princípios de cavalheirismo e honra, o gentil-homem poupa a vida de um soldado catalão e de um cavalheiro espanhol. O segundo momento é o da fuga do navio Fulgor junto com o corpo do corsário vermelho, resgatado em meio a muitas aventuras e uma explosão de proporções assustadoras, e o de confronto com um navio espanhol que vinha em direção a Maracaibo, onde o corsário e sua tripulação encontram trancados na cabine uma jovem duquesa flamenga com a criadagem próxima. Dá-se, como é de se esperar, que ambos se vêem apaixonados, mas o capitão, tendo jurado que vingaria os 3 irmãos somente se matasse Wan Guld e toda a sua família, não permanece com ela. Mal pousa na famigerada ilha Tortuga, onde bucaneiros e flibusteiros concentram os resultados de seus grandiosos saques marítimos, une-se à frota de dois outros grandes capitães e parte de novo para Maracaibo -- desta vez, segundo ele, para invadir a ilha do governador e dar cabo de sua vida. O terceiro grande conjunto de aventuras gira em torno da caça ao conde Wan Guld, que se vira contra o caçador corsário, pois que após atravessar uma floresta virgem e se deparar com onças, suçuaranas, jaguatiricas, jacarés, lodaçais, pântanos, espinheiros e antropófagos (para não mencionar fome, sede, dor, sono e exaustão), a corajosa e reduzida equipe, agora orientada justamente pelo catalão que havia sido poupado na primeira parte, se vê aprisionada pelo governador, e só escapa à morte porque o capitão do navio que os captura não é outro senão o do nobre Sr. de Lerma, o gentil-homem a quem o corsário havia também poupado a vida.

Uma vez que se trata de uma adaptação (aqui, realizada por Graciela Karman), não posso afirmar que este seja de fato o desfecho da obra, mas aqui o narrador nos explica que a duquesa é, na verdade, filha de Wan Guld, que vinha sob disfarce para Maracaibo quando o navio foi atacado pelo Fulgor e conquistado. Estando Wan Guld e seus familiares jurados de morte, o corsário, que a ama, não a mata, mas manda que abasteçam um escaler (uma embarcação sólida, pequena, com remos e bancos) com mantimentos para uma semana, e a larga em alto mar, num ponto indefinido entre a ilha Tortuga e o estreito de Gibraltar.

Mas o que havia feito Wan Guld de tão terrível? Na guerra entre França e Espanha pela disputa pelo território de Flandres, o então comandante das tropas francesas Wan Guld havia vendido a alto preço sua lealdade aos espanhóis, infiltrando-os durante a noite no forte francês. Durante a traição perpetrada, ele mata o primogênito dos irmãos Roccanera como forma de silenciar a traição, mas o faz com atraso, porque todos do grupo tinham visto e tiveram tempo de fugir, dentre os quais estavam os outros três irmãos. Não bastasse esta traição, pela qual angariou seu cargo de governador em Maracaibo, mandou enforcar o Corsário Verde e o Corsário Vermelho, irmãos de Emílio, como forma de se vingar de todos os Roccanera e de silenciá-los com relação à sua traição.

Nesse sentido, o leitor e a leitora podem experimentar, ao final da narrativa, um certo desalento, já que não vêem Wan Guld pagando pelos seus atos. Tampouco o final da jovem duquesa Honorata Wan Guld é decisivo: terá ela morrido em meio às incertas vagas? Terá sido resgatada por outro navio? Terá se reencontrado com seu pai ou, um dia, quem sabe, com o amado Corsário Negro, que tão amargamente havia chorado a decisão de abandoná-la à própria sorte? Estas e outras aventuras são contadas nos romances subsequentes, O filho do corsário vermelho, A rainha do Caribe e, é claro, A filha do corsário negro. Porém, estes não constam na coleção ora em apreço e, assim, fica o gostinho de quero-mais de saber o que vem depois da cena em que o capitão chora o abandono de sua amada, numa ótima e eficaz demonstração do poderoso efeito que a arte do italiano Emílio Salgari foi capaz de criar e propagar através das palavras e, pelo que vemos, dos séculos.

Fonte de informações sobre o autor: http://pt.wikipedia.org/wiki/Emilio_Salgari

1 Comentários:

Blogger mateus disse...

merda

5 de maio de 2019 às 06:21  

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