Coleção Clássicos da Literatura Juvenil

Apresentação e resenha dos livros da coleção editada pela Abril Cultural entre 1971 e 1973.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Volume 34 - As mil e uma noites


Dentre os livros orientais conhecidos mundialmente, As mil e uma noites é provavelmente o mais famoso e o mais antigo de todos. Há quem diga, por exemplo, que ele é o livro mais lido depois da Bíblia. Compilado pelo francês Antoine Galland no início do século XVII (refiro-me ao período de 1700 a 1717), o conjunto de histórias orientais baseou-se em escritos árabes encontrados na Pérsia e no Egito, e originalmente não tinha esse título.
Todas as diversas fontes datam do século IX, especificamente a partir do ano 879, quando o califa (leia-se representante de Maomé na Terra) Haroun Al-Rachid governava em Bagdá. Os contos parecem falar de mil e uma noites de histórias, mas somente no século X passa-se a consolidar a ideia de uma princesa chamada Xerazade e de sua sedução através das histórias que contava. Muitas são as versões e as origens, e sabemos hoje que as histórias não são somente árabes, mas indianas, persas e até gregas. No quadro de contos populares, não faltam histórias fantásticas, com magos, gênios, reis, escravos, pescadores, mercadores, lindas mulheres e os enredos mais fascinantes contados pela esposa do rei Xariar. Obviamente, por questão de faixa etária, os contos de caráter erótico foram desconsiderados na edição publicada na coleção Clássicos da Literatura Juvenil.

Conta a história que Xariar, irmão de Xazamã, foi traído pela primeira esposa e, por isso, decidiu casar-se todos os dias com uma virgem, para na manhã seguinte às núpcias mandar degolá-la e, assim, não correr o risco de ser novamente traído. Diariamente, o grão-vizir degolava a recém-casada, até que quase já não havia virgens no reino da Pérsia. Foi quando a filha do próprio vizir, chamada Xerazade, resolveu parar com as mortes de mulheres e ofereceu-se para casar-se com Xariar, à revelia do pai. A estratégia de Xerazade era chamar a irmã ao quarto nupcial um pouco antes do amanhecer e então contar-lhe uma de suas histórias como “despedida”, mas quando o primeiro raiar de sol surgia no horizonte, a história estava num ponto tão interessante, que Xariar, curioso para saber o desfecho, poupou a vida de Xerazade. Nascia, assim, a primeira novela folhetinesca que conhecemos, pois a moça sempre interrompia a narrativa em seu ponto alto, e ia entrelaçando os enredos de forma tão sutil, que a história nunca acabava. Ao todo, conta-se que foram 88 histórias narradas durante mil e uma noites, e que nesse período não só Xerazade deu um herdeiro a Xariar, mas o califa acabou por arrepender-se de sua ira e por reconhecer que nem todas as mulheres eram traidoras. Xerazade, então, tornou-se sultana e teve com Xariar um total de 3 filhos.

No volume apresentado nesta coleção, o leitor e a leitora encontram somente algumas das histórias e, justamente por ser um recorte do livro compilado através dos séculos, as histórias não são contadas em “dias”, mas em núcleos de histórias. Assim, são encontradas histórias como a do pescador e do vaso com o gênio lacrado há séculos lá dentro, ou as famosas histórias de Aladim e a lâmpada maravilhosa, e de Simbá, o marinheiro. A linguagem é bastante acessível, e todas as paisagens, os ambientes e as roupas das personagens são ricamente descritas, de forma a pintar um quadro colorido e repleto de riquezas e da paisagem oriental das areias do deserto, das montanhas escarpadas, das ilhas nos mares e até mesmo de reinos mais distantes, como a China.

Vale a pena, neste livro, dar especial atenção às ilustrações, que são muito singelas e ao mesmo tempo muito detalhadas, e retratam fadas, gênios, reis, e heróis e heroínas. Além disso, imperdível é a história do Príncipe Caramalzamã e da Princesa Badura. Ele vivia na Pérsia, ela na China; ele não queria casar-se, ela tampouco. Ambos tão distantes assim, jamais haviam se conhecido, mas passam por situação semelhante de serem trancados em quartos e torres até que “recuperem o juízo” e concordem em se casar para perpetuar a dinastia. Mas eis que, durante o sono, um diabo e uma fada se encontram, e apresentam um ao outro durante o sono, e depois os reconduzem aos seus respectivos leitos. A aventura que se segue é a de fazer com que um encontre o outro e possam finalmente se casar. Esta é, aliás, a história que ilustra a capa deste volume da coleção.

Como eu comentei, muitas das histórias mais picantes ou mais complexas foram deixadas de fora, mas elas podem ser encontradas em qualquer lugar – uma livraria, uma bilbioteca, na rede virtual --, e então lidas em sua completude. Nesse caso, pode-se optar tanto pelas traduções feitas ao longo de décadas pelos europeus e então trazida ao Brasil, ou pela recente tradução brasileira feita diretamente com base nos pergaminhos árabes, feita pelo professor e tradutor Mamede Mustafá Jarouche. Só não vale deixar de ler, pois essas narrativas exemplares são a base de uma parte significativa da nossa história e da nossa cultura e, como tal, nos constrói, ainda que você, leitor ou leitora, não entenda muito bem como ela o faz. Esse já é um outro tema – um aprendizado para a vida toda, numa trilha que vale a pena ser percorrida.

Fonte de informações sobre a história:
http://pt.wikipedia.org/wiki/As_mil_e_uma_noites

2 Comentários:

Blogger LUIZGARCIA disse...

Essa tradução do Mamede acabou ? Uma vez ele foi no programa do jô e disse que eram cinco volumes mas ficou mesmo nos três.

10 de setembro de 2010 às 18:39  
Blogger Fabiana Tavares disse...

Na verdade, o projeto original, de acordo com nota no Jornal do Campus, da USP, era de 6 volumes, mas temos, como você mesmo disse, somente três até o momento. Acredito que o resto ainda seja publicado, Luiz. a questão é que muitas obras levam, literalmente, uma vida para serem traduzidas, e o trabalho que o professor Mamede tem é certamente colossal. Fora isso, há sempre questões econômicas que envolvem audiência e editoração, além do pagamento do próprio tradutor e os acordos de royalties. Vamos dar o devido crédito e esperar que os volumes restantes sejam publicados, ok?

14 de setembro de 2010 às 11:54  

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