Volume 29 - Aventuras de um petroleiro - Richard Armstrong
Há quem possa dizer que Aventuras de um petroleiro é um livro dirigido a meninos e meninas, mas a minha experiência de leitura faz com que eu me incline, de forma bastante convencida (porque a mim convenceu), a afirmar que o volume 29 da Coleção Clássicos da Literatura Juvenil, escrito por Richard Armstrong, é voltado primordialmente ao público de jovens garotos, desejosos de aventurar-se através dos espaços que somente a literatura, numa vida já atribulada e plena de atividades de educação e formação, lhes dá.
Trata-se da viagem de travessia do petroleiro inglês Cape Wrath, no início da Segunda Guerra Mundial, da costa canadense até a irlandesa. Comandado pelo experiente Jack Holroyd, conhecido como Old Man (ou, como muitos se referiam por trás, Jack Olho-de-Peixe), o petroleiro alinha-se com outros navios num comboio, numa tentativa de protegerem-se uns aos outros dos atraques nazistas e, assim, chegarem sãos e salvos em terra.
A aventura tem início quando resgatam dois náufragos num barco, à deriva, e se vêem atacados por um submarino. Só não sofrem avarias maiores devido à grande experiência marítima do capitão, já que sua parca munição não fazia frente à estrutura bélica do submarino. Como resultado desta tentativa de fazer sucumbir o navio, afastam-se do comboio, mas logo retomam o rumo e conseguem alcançá-lo, por meio de manobras que incluem soltar grande fumaça no ar para encobrir seu rastro. Tal manobra parece não funcionar e, mais tarde, vêem-se diante de um verdadeiro fogo cruzado: não só o baleeiro do comboio vai a pique, como eles próprios sofrem ataques de granadas, metralhadores e canhões. Sendo um cargueiro de petróleo, logo são invadidos pelas chamas assustadoras, enquanto rios de petróleo cobrem o mar à volta e os gases petrolíferos lhes queimam os olhos e dificultam a respiração.
É neste momento que, com a ajuda do fiel Bull Barlow, o capitão Holroyd salva a maioria da tripulação e os coloca em dois barcos salva-vidas, não sem antes fazê-los atravessarem o fogo em direção aos barcos. O que deixa para contar, já seguros e à deriva, é que fora atingido por um mastro e que está morrendo. Encarrega Bull da chefia da tripulação – reduzida à metade, porque um dos barcos some durante a noite -- , e morre. Por voltas que o enredo dá e descrevendo as agruras e as tentativas de manter o ânimo e o moral dos homens feridos e exaustos, acabam encontrando o petroleiro depois de três dias, ainda queimando e à deriva. A tarefa louca a que se empenham, pois, é tomar o navio, domar o fogo, consertá-lo suficientemente e fazê-lo funcionar, conduzindo-os, então, às costas britânicas, conforme Bull havia prometido ao capitão que faria, de forma a repatriar os homens.
A aventura é construída lentamente, e demora para conquistar o leitor – talvez, pela série de palavras muito específicas de engenharia náutica, ou por verbos mais rebuscados em português, tais como “tergiversar” (mudar de assunto) ou “perquirir” (investigar), devidamente conjugados. No entanto, é amarrada por um espírito ideológico de união e resistência que só encontramos em tempos de enormea crise, como os de guerra, em que a vida depende da união e do esforço conjunto. Além disso, é notável que o livro não faça alusão à vida na terra de nenhuma das personagens: é como se elas somente existissem para o mar, e ali construíssem o seu caráter e a sua coragem. Destacam-se, nesse processo de formação, os jovens Gib e Scruffy, que, de grumetes, passam a realizar importantes tarefas para a sobrevivência do grupo, desde cuidar de alimento e conforto para o descanso até limpeza e força física para consertar o navio e permanecer de vigia no posto, em busca de terra firme ou para previni-los da presença de outras embarcações.
Nesse sentido, Armstrong constrói, neste livro publicado em 1959, uma narrativa voltada a rapazes, e resgata, de forma bastante acentuada, aquele espírito nacionalista e indômito que constituiu frotas e mais frotas inglesas, que foi responsável pelas inúmeras conquistas, notadamente as imperialistas oitocentistas, durante a era vitoriana, quando a Inglaterra dominou boa parte da Ásia e alguns países da África (para não mencionar a América Central). Não se trata, porém, de pura nostalgia: como já disse em outras ocasiões, a literatura, como forma de arte, é resultado das condições da sociedade que a produz. Não nos esqueçamos, então, que em 1959 já havia acontecido a Guerra da Coréia, e que o mundo já vivia quase 10 anos de Guerra Fria. Não seria de estranhar que grande parte do escrito de Armstrong (que, em 1948, ganhou o prêmio Canergie de Literatura Infantil por um outro livro), marujo experiente e escritor dedicado a aventuras no mar, dedicasse a destacar o valor e a coragem britânicas, até mesmo como maneira de resgatar uma formação que auxiliaria a sociedade a formar rapazes que poderiam, sim, vir a terem necessidade de defender a nação, se as coisas no âmbito político ficassem piores.
Curioso, pois, é o título original do livro e sua relação com o nome do petroleiro: enquanto Cape Wrath significa “Cabo Ira”, numa clara alusão não só à guerra, mas à força e à determinação com que a tripulação retoma, resgata, e dirige o petroleiro, conseguindo entregar ainda 10 mil toneladas de petróleo na costa escocesa, o título do livro é The Lame Duck – o que, numa tradução literal, significa “pato manco”, mas também é usada como “bode expiatório” (principalmente na política). Ora, numa situação em que se quer atacar um comboio, o petroleiro, ao mesmo tempo em que serve de bode expiatório para atrair os submarinos para o comboio, é também o “pato manco” sobrevivente que, apesar de todas as desventuras, aporta com sucesso -- e sem a ajuda de ninguém a não ser de sua própria tripulação. É pena, por fim, que esta narrativa sofrida no que diz respeito à sobrevivência de suas personagens não convença o leitor moderno, espectador da TV e que logo veria o homem pisar na Lua, não convença este mesmo leitor sobre a grandeza e a lealdade que outrora a Grande Mãe Inglaterra despertava com paixão em seus pequeninos. Porque, no final das contas, a ideologia pura e inocente, que não considera o seu tempo, não sobrevive se a este não se mesclar.
Fonte de informações sobre o autor (em inglês): http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Armstrong_(author)
Trata-se da viagem de travessia do petroleiro inglês Cape Wrath, no início da Segunda Guerra Mundial, da costa canadense até a irlandesa. Comandado pelo experiente Jack Holroyd, conhecido como Old Man (ou, como muitos se referiam por trás, Jack Olho-de-Peixe), o petroleiro alinha-se com outros navios num comboio, numa tentativa de protegerem-se uns aos outros dos atraques nazistas e, assim, chegarem sãos e salvos em terra.
A aventura tem início quando resgatam dois náufragos num barco, à deriva, e se vêem atacados por um submarino. Só não sofrem avarias maiores devido à grande experiência marítima do capitão, já que sua parca munição não fazia frente à estrutura bélica do submarino. Como resultado desta tentativa de fazer sucumbir o navio, afastam-se do comboio, mas logo retomam o rumo e conseguem alcançá-lo, por meio de manobras que incluem soltar grande fumaça no ar para encobrir seu rastro. Tal manobra parece não funcionar e, mais tarde, vêem-se diante de um verdadeiro fogo cruzado: não só o baleeiro do comboio vai a pique, como eles próprios sofrem ataques de granadas, metralhadores e canhões. Sendo um cargueiro de petróleo, logo são invadidos pelas chamas assustadoras, enquanto rios de petróleo cobrem o mar à volta e os gases petrolíferos lhes queimam os olhos e dificultam a respiração.
É neste momento que, com a ajuda do fiel Bull Barlow, o capitão Holroyd salva a maioria da tripulação e os coloca em dois barcos salva-vidas, não sem antes fazê-los atravessarem o fogo em direção aos barcos. O que deixa para contar, já seguros e à deriva, é que fora atingido por um mastro e que está morrendo. Encarrega Bull da chefia da tripulação – reduzida à metade, porque um dos barcos some durante a noite -- , e morre. Por voltas que o enredo dá e descrevendo as agruras e as tentativas de manter o ânimo e o moral dos homens feridos e exaustos, acabam encontrando o petroleiro depois de três dias, ainda queimando e à deriva. A tarefa louca a que se empenham, pois, é tomar o navio, domar o fogo, consertá-lo suficientemente e fazê-lo funcionar, conduzindo-os, então, às costas britânicas, conforme Bull havia prometido ao capitão que faria, de forma a repatriar os homens.
A aventura é construída lentamente, e demora para conquistar o leitor – talvez, pela série de palavras muito específicas de engenharia náutica, ou por verbos mais rebuscados em português, tais como “tergiversar” (mudar de assunto) ou “perquirir” (investigar), devidamente conjugados. No entanto, é amarrada por um espírito ideológico de união e resistência que só encontramos em tempos de enormea crise, como os de guerra, em que a vida depende da união e do esforço conjunto. Além disso, é notável que o livro não faça alusão à vida na terra de nenhuma das personagens: é como se elas somente existissem para o mar, e ali construíssem o seu caráter e a sua coragem. Destacam-se, nesse processo de formação, os jovens Gib e Scruffy, que, de grumetes, passam a realizar importantes tarefas para a sobrevivência do grupo, desde cuidar de alimento e conforto para o descanso até limpeza e força física para consertar o navio e permanecer de vigia no posto, em busca de terra firme ou para previni-los da presença de outras embarcações.
Nesse sentido, Armstrong constrói, neste livro publicado em 1959, uma narrativa voltada a rapazes, e resgata, de forma bastante acentuada, aquele espírito nacionalista e indômito que constituiu frotas e mais frotas inglesas, que foi responsável pelas inúmeras conquistas, notadamente as imperialistas oitocentistas, durante a era vitoriana, quando a Inglaterra dominou boa parte da Ásia e alguns países da África (para não mencionar a América Central). Não se trata, porém, de pura nostalgia: como já disse em outras ocasiões, a literatura, como forma de arte, é resultado das condições da sociedade que a produz. Não nos esqueçamos, então, que em 1959 já havia acontecido a Guerra da Coréia, e que o mundo já vivia quase 10 anos de Guerra Fria. Não seria de estranhar que grande parte do escrito de Armstrong (que, em 1948, ganhou o prêmio Canergie de Literatura Infantil por um outro livro), marujo experiente e escritor dedicado a aventuras no mar, dedicasse a destacar o valor e a coragem britânicas, até mesmo como maneira de resgatar uma formação que auxiliaria a sociedade a formar rapazes que poderiam, sim, vir a terem necessidade de defender a nação, se as coisas no âmbito político ficassem piores.
Curioso, pois, é o título original do livro e sua relação com o nome do petroleiro: enquanto Cape Wrath significa “Cabo Ira”, numa clara alusão não só à guerra, mas à força e à determinação com que a tripulação retoma, resgata, e dirige o petroleiro, conseguindo entregar ainda 10 mil toneladas de petróleo na costa escocesa, o título do livro é The Lame Duck – o que, numa tradução literal, significa “pato manco”, mas também é usada como “bode expiatório” (principalmente na política). Ora, numa situação em que se quer atacar um comboio, o petroleiro, ao mesmo tempo em que serve de bode expiatório para atrair os submarinos para o comboio, é também o “pato manco” sobrevivente que, apesar de todas as desventuras, aporta com sucesso -- e sem a ajuda de ninguém a não ser de sua própria tripulação. É pena, por fim, que esta narrativa sofrida no que diz respeito à sobrevivência de suas personagens não convença o leitor moderno, espectador da TV e que logo veria o homem pisar na Lua, não convença este mesmo leitor sobre a grandeza e a lealdade que outrora a Grande Mãe Inglaterra despertava com paixão em seus pequeninos. Porque, no final das contas, a ideologia pura e inocente, que não considera o seu tempo, não sobrevive se a este não se mesclar.
Fonte de informações sobre o autor (em inglês): http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Armstrong_(author)
7 Comentários:
esse livro é muito grande? seria esse autor: http://en.wikipedia.org/wiki/Richard_Armstrong_(author)
Olá, Luiz! O autor é este mesmo. "The Lame Duck" não consta como uma de suas grandes obras, embora o autor seja conhecido pelas narrativas marítimas e pelo caráter de formação masculina que imprime em seus romances. No entanto, chegou até mesmo a ser premiado nos anos 1940 por produção infanto-juvenil. De toda forma, vale a pena conhecer e, certamente, aprender muito com o livro!
Parabéns
Eu li alguns exemplares em minha adolescência. Agora estou adquirindo aos poucos a coleção para meus filhos. Já tenho 11 livros. Alguns dizem que são 55??!! Bom, felicitaçõesw pela iniciativa, muito enriquecedora. Felicidades!!
Olá, Lindinha. Obrigada pelos cumprimentos! Olha, são 50 volumes. CER-TE-ZA. Fico muito contente que esteja colecionando também! Eu estou ganhando MUITO com essa minha experiência, e fico feliz em ver que as pessoas estão curtindo também! Beijos!
muito legal li esse livro e só tenho uma dúvida:
Onde foi parar o segundo bote? só metade da tripulação vive? Não é estranho?
Olá,
o nome completo do autor é
Ralph Richard Armstrong
veja esse site que tem a lista completa de
suas obras:
http://ralphrichardarmstrong.blogspot.com/
nesse site consta que o livro "The Lame Duck"
foi lançado em 1961 e não em 1959.
Gostaria de confirmar esse dado e se existe algum filme ou desenho animado baseado nesse romance
grato,
Lisandro Pavan
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