Coleção Clássicos da Literatura Juvenil

Apresentação e resenha dos livros da coleção editada pela Abril Cultural entre 1971 e 1973.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Volume 17 - Ivanhoé - Walter Scott

"Aventura" é o caldo que se concentra no caldeirão da coleção Clássicos da Literatura Juvenil. Mas, desta vez, o leitor tem o prazer de se deparar com Ivanhoé, clássico escrito pelo escocês Walter Scott (1771-1832), condecorado cavaleiro e por isso conhecido mais como Sir Walter Scott -- ou, ainda, como Waverley, título do romance que o tornou definitivamente famoso.

Ivanhoé, publicado em 1819, é famoso por ser, dentre a safra dos romances de Scott, que inauguraram o gênero de romance histórico, o mais famoso e o mais aceito de todos. Não é para menos: o livro, ainda que condensado em cerca de cinquenta por cento do seu volume original, apresenta todos os elementos que o ajudaram a se perpetuar como obra-prima britânica: o elemento histórico da vida de Ricardo Coração de Leão e da traição de seu irmão, João Sem Terra, ao elemento folclórico da presença de Robin Hood e de seu bando na floresta de Sherwood, incluindo o Frade Tuck; a religião católica questionada pelas licensiosidades dos templários e dos religiosos regados a vinho e a cortesias de nobres cruéis com sua vassalagem; a religião judaica exaltada pela fé e pela compaixão ao mesmo tempo em que é desprezada por sua usura; a aventura épica em busca de honra e de glória, armadas com coragem e lavadas com sangue; o romance e o amor, que encontram obstáculos nas questões de hereditariedade, na ausência prolongada do herói e na eminência de sua morte; e a exaltação do nacionalismo utópico, tão comum aos escritos do início do século XIX, que aparecem sob a forma de combate ao comando normando e de resgate do trono por parte do verdadeiro Rei.

Desta forma, o leitor se depara com a chegada de um comandante templário chamado Brian de Bois-Guilbert, de um abade, de um peregrino e de um velho judeu ao castelo de Cedric de Rotherhood, no final do século XII. Este, saxão e guardião da bela Lady Rowena, de linhagem real, recebe a todos, dedicando atenção e dispendendo cuidado de acordo com suas respectivas importâncias, estabelece sua posição de saxão logo de início, ao explicar que recebe e hospeda a todos, mas não dá mais do que três passos para cumprimentar aos visitantes, devido ao juramento de dar mais passos para o verdadeiro rei saxão. Além disso, explica que entende o francês, mas que ele fala o saxão. A trama se desenrola, e o leitor vem a saber que o peregrino é senão o jovem Wilfred de Ivanhoé, filho de Cedric, expulso e deserdado porque ousara olhar para Rowena sem que ela usasse o véu e dela se enamorasse.

Ao longo da narrativa, o templário se revela traidor de seu voto sacerdotal templário, pois que se interessa por Rebeca, a filha de Isaac de York (o judeu hospedado pro Cedric e que Wilfred ajuda a fugir antes do amanhecer para não ser capturado pelos normandos) e o cerco se arma para que, ao mesmo tempo, Rebeca seja capturada por Bois-Guilbert, Cedric e Wilfred seja morto para que suas terras, confiscadas pelos nobres, não seja devolvida; para que Rowena case-se à força com um nobre que manda raptá-la; e para que João Sem Terra prenda Ricardo I e possa reinar tão indiscriminadamente quanto o fizere durante os anos em que seu irmão lutara na Palestina, nas Cruzadas. Ivanhoé, na verdade, é mais do que um proscrito pelo pai. Alma nobre e corajosa, lutara nas Cruzadas ao lado do Rei Ricardo e o salvara diversas vezes, de forma que o reencontro de ambos, que se dá no meio de um assalto de resgate do pai e da amada Rowena, é feliz e bem-aventurada.

Muitos são os fios que costuram ainda mais esta trama. A intertextualidade do romance com relatos de Robin Hood é visível -- e nada do que lemos no volume 14 difere de forma significante deste romance --, e os elementos políticos com relação à nacionalidade é que mais chamam a atenção, devido à época da qual este romance é produto. Porque, embora trate de questões históricas relativas ao século XII, a narrativa deixa entrever alguns elementos fundamentais acerca do início do século XIX. Um deles é a atmosfera utópica de um nacionalismo conciliado e uno, em que ingleses são resultado da união dos saxões com os normandos e da qual resulta, com o acréscimo do latim e de algumas línguas europeias do sul, o inglês moderno como elemento unificador e símbolo de uma nação soberana. Ora, sabemos, e olhamos para este dado do lugar anacrônico que ocupamos como leitores do século XXI, que a Grã-Bretanha estava em franca expansão na África e a Ásia, colonizando, pelo amor ou pela dor, pelo ouro ou pelo chicote, a todos que encontrasse no caminho, tal como a França -- ou melhor dizendo, a Normandia -- fez com a Grã-Bretanha no século XI, e os saxões muito antes disso, no século V.

Mesmo assim, ainda que com vários elementos históricos típicos do século XIX escapando pelas brechas da narrativa, como o espírito nacionalista pós-revolução Francesa e a fonte das novelas de cavalaria e dos romances anteriores que o autor leu, tais como Dom Quixote, Ivanhoé não deixa de perpetuar Scott como o grande escritor romântico britânico, ao lado de Lord Byron, e tampouco deixa de influenciar as incontáveis novelas e romances posteriores, até hoje, como a própria série Harry Potter -- afinal, de onde sairiam inspirações óbvias como Rowena Ravenclaw, Cedric Diggory e Fangs, o cão de Hagrid? Importância literária e influências à parte, e tomando-se o livro como leitura juvenil, o leitor verá que não foi à toa e muito menos sem mérito que ele permanecesse vivo até os dias de hoje e figure como clássico universal. Só por isso, e pelo sabor de aventura que nos rodeia a cada volume da série, já vale a leitura.

Fonte de informações do autor: http://pt.wikipedia.org/wiki/Walter_Scott

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