Coleção Clássicos da Literatura Juvenil

Apresentação e resenha dos livros da coleção editada pela Abril Cultural entre 1971 e 1973.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Volume 18 - Os Patins de Prata - Mary Mapes Dodge

Os Patins de Prata é um romance escrito para o público infantil pela norte-americana Mary Mapes Dodge. Publicado em 1865, ele narra a história da humilde família Brinker de holandeses, cujo pai se encontra doente há dez anos e os filhos, Hans e Gretel, auxiliam a mãe a manter a casa.

Situado na Holanda, a narrativa é uma rica pintura do país e de sua história, e apresenta o país e suas cidades principais de forma colorida e cheia de vida, enfeitando-a com museus e objetos de conquistas em guerras, roupas típicas de camponeses e camponesas, e o clima frio com as tradicionais férias de dezembro e as festas de São Nicolau, quando árvores ainda não faziam parte do Natal e este ainda não era ali comemorado no dia 25 de dezembro.

Para descrever o ambiente, o narrador se vale de um enredo secundário, em que os amigos e vizinhos de Hans e Gretel empenham-se em uma viagem de patins desde a cidade de Brock até Haya e de volta, passando por Amsterdam. É durante este caminho que o leitor aprende, por exemplo, a história popular do menino que, para salvar o país de ser invadido pela água que vazava de uma pequena rachadura num dique, passa a noite no frio, congelando, com o dedo tampando o buraco, até que quase ao amanhecer um padre o encontra e chama pessoas para ajudar o menino e imediatamente tampar a falha no dique. Esta e outras histórias sobre a Holanda são narradas de forma apologética, e o leitor vê-se encantado com o clima de comunidade pequena de um país pitoresco, onde os personagens primários lutam não só para sobreviverem, mas para curarem o pai que, em vezes cada vez menos espaçadas, tem crises nervosas e ataca seus familiares, sem reconhecê-los.

A história de Hans e Gretel não é somente cuidar para que mantenham a si e aos pais vivos e alimentados: devem eles também lutar para encontrarem seu lugar social e entre seus pares. Ele com 15 e ela com 12 anos, são vistos como párias na cidade e participam das atividades lúdicas de patinação com patins de madeira que o garoto, muito hábil, esculpe. Somente com trabalho -- e com a caridade de garotas como Hilda e Anna, das famílias abastadas locais -- conseguem comprar patins de aço e se prepararem para a grande competição anual de patins de garotos e garotas, na qual o prêmio para cada categoria -- feminino e masculino -- era um par de patins de prata.

Entre um e outro enredo, Hans obtém a simpatia do médico local para que este visite o pai, o diagnostique e o opere, curando-o. Como não pode deixar de ser num romance romanesco, o Sr. Brinker cura-se e conta à família, que durante os dez anos de sua doença penou para se manter viva, onde havia enterrado as economias que tinha, de forma que possam agora ter o que comer, vestir e aquecer a casa sem desespero para suprir a necessidade seguinte. Além disso, lembra-se de ter, na manhã do dia em que o acidente no dique ocorrera, ter-se deparado com um jovem e desesperado nobre que desejava desaparecer da cidade e lhe pedira ajuda para atravessar o cais. Ao se despedir dele, pedira-lhe que retornasse o relógio ao pai e lhe informasse de seu paradeiro. Até então, o relógio e a história do rapaz permanecera obscurecida pela doença do pai de Hans e Gretel, e é com grande surpresa que ao visitar o doente em recuperação, o médico se depara com o relógio e declara que era de seu filho desaparecido.

Como se pode esperar, as tramas se amarram e o final feliz se estabelece: retorna ao lar o filho pródigo, que estivera durante todo o tempo na Inglaterra e se estabelecera como industrial; recupera-se o Sr. Brinker e passa a trabalhar na fábrica do filho do médico; cresce o jovem, estudioso e honesto Hans e torna-se médico; cresce a adorável, caridosa Anna e casa-se com Hans; cresce a pequena e gentil Gretel, ganhadora do concurso dos patins de prata, e casa-se com o bom médico que havia curado seus pais; e cada um dos seis amigos que haviam empreendido a viagem de ida e volta a Haya tem seu destino definido.

Pelo seu conteúdo previsível, seguro e solidamente feliz, com pitadas exóticas e um espírito nacionalista, como convinha ser nos Estados Unidos de 1865, época do final da Guerra de Secessão, Os Patins de Prata estabeleceu-se como sucesso imediato e, em trinta anos, teve mais de cem edições. O fato de a autora ser redatora-chefe do jornal para crianças St. Nicholas e de manter contato com famosos escritores, como Harriet Beecher Stowe (que escreveu A Cabana do Pai Tomás) e Frances Hodgson Burnett (que escreveu O Pequeno Lorde e O Jardim Secreto), dentre outros, certamente contribuiu para que o romance entrasse em circulação e fosse amplamente divulgado, mas o que mais chama a atenção é o elemento biográfico do romance de Dodge: porque, embora se passe na Holanda e a história seja fictícia, é difícil para o leitor atento não entender que Hans e Gretel, sem um pai ativo e passando por dificuldades financeiras muito graves durante 10 anos, não sejam de certo modo espelho dos filhos da própria escritora, que se tornou viúva logo após o marido ter entrado em colapso financeiro, ter sido dado como desaparecido e então ter sido encontrado morto um mês após o desaparecimento. Há ainda outros elementos que permitem este tipo de comparação, mas no final, importa que o livro tenha apelo à audiência ao qual se destina, de tal modo que se tenha perpetuado o bastante para figurar, mais de um século depois, e em contexto semelhante de exaltação ao nacionalismo, na coleção Clássicos da Literatura Juvenil.

Material de referência sobre a autora:
http://en.wikipedia.org/wiki/Mary_Mapes_Dodge (em inglês)


5 Comentários:

Blogger Rita disse...

bravo, Fabi!
Estou orgulhosa de ter estudado com vc!
beijão

18 de maio de 2010 às 18:15  
Blogger Fabiana Tavares disse...

Puxa, Rita, obrigada pelo comentário! É bom saber que tem gente gostando! Beijos! Fabi

19 de maio de 2010 às 13:58  
Blogger Kαtιnhα™     disse...

parabêns a história é linda e eu ja li o livro vou recomendar o blog com certeza

19 de abril de 2011 às 16:27  
Blogger Carla Santo disse...

Tenho 44 anos hoje, e tive o prazer de ler esse livro quando ainda estava no antigo primário.
Minha querida professora "tia" Maria José, escolheu este livro para lermos e depois fazer um teste.
A história, o livro é tão lindo, que nunca esqueci. Hoje o mencionei no Facebook com um amigo e fiz uma pesquisa rápida no Google, qual não foi minha surpresa quando encontrei este belo post.
Obrigada por me lembrar, com riqueza de detalhes, desse livro tão querido que fez parte de uma fase tão rica e importante de minha vida!
Um grande abraço!

1 de julho de 2013 às 00:59  
Blogger Meire Machado disse...

esse livro é lindo!!! li aos 11 anos, estou com mais de 40 e nunca me esqueci, a história marcou a minha pré adolecência... estou procurando para comprar para os meus filhos, que logo estarão na idade que eu tinha quando li... amei o post

20 de março de 2017 às 14:32  

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