Coleção Clássicos da Literatura Juvenil

Apresentação e resenha dos livros da coleção editada pela Abril Cultural entre 1971 e 1973.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Volume 2 - O Conde de Monte Cristo - Alexandre Dumas

Dentre os títulos disponíveis na coleção Clássicos da Literatura Juvenil, O Conde de Monte Cristo é um que oferece uma das visões mais detalhistas do movimento político da França do início do século XIX. Publicado em 1844, o segundo volume da coleção situa seu ambiente histórico nos dias que antecedem o período de cem dias do segundo governo de Napoleão Bonaparte, que havia sido derrubado de seu império francês porque se tornara impopular em decorrência dos altos impostos e do grande número de recrutamento de cidadãos para as guerras que ele fazia contra alguns países. É nesta atmosfera de segredos, associações excusas e planejamento de golpe político para a derrubada do rei Carlos X do poder que o autor tece a trama, aqui recontada por Miécio Táti (escritor e professor de literatura no Rio de Janeiro).
Trata-se da história de Edmundo Dantès, jovem marinheiro da região de Marselha prestes a se casar com Mercedes quando, por trama de dois homens -- um interessado em seu recente posto de capitão e outro interessado em sua noiva --, vê-se preso em meio a uma intriga política, acusado de ser o portador de uma carta com informações dos movimentos de Bonaparte para retomada do poder e que deveria ser entregue a conspiradores. Assim, na mesma noite em que é capturado, ele é silenciosamente levado ao castelo de If, lugar histórico e real numa ilha na costa de Marselha, e ali permanece por 14 anos. Durante esse tempo, sua transformação é completa, e não enlouquece porque conhece ali o Abade Faria. O religioso é na verdade uma versão romancizada do gênio e da inventividade de homens do gabarito de Leonardo da Vinci, e com os parcos recursos retirados a partir de cuias, pratos, colheres, roupas, gordura de carne e ossos, fabrica material com que registrar suas ideias e seus planos de fuga. Com Edmundo o abade compartilha não só os instrumentos, os planos de fuga e o trabalho de escavação do túnel, mas seu maior segredo: um tesouro imensurável e sem dono, enterrado há séculos na ilha de Monte Cristo -- que, a propósito, é de localização também real. O sonho de possuir o tesouro não segue adiante para o pobre homem: atacado pela doença e pela velhice, ele morre e deixa o mapa do tesouro para o amargurado amigo Dantès, que tem a ideia de colocar o morto em sua cela e ocupar o seu lugar no saco mortuário que seria lançado ao mar.
Desta forma, Dantès foge, trabalha, resgata o tesouro e dá início a uma imperdível aventura em busca de vingança e de justica para cada um dos malfeitores que estiveram envolvidos na prisão de Dantès e consequente infelicidade de Mercedes e morte -- por fome e tristeza -- do pai do misterioso senhor rico e excêntrico que somente no final revela sua identidade. Esse romance de 289 páginas e muitas ilustrações a pena reflete muito bem o clima da época dos anos 30 e 40 do século XIX na França, quando o terror e o medo da intriga e da revolução, deixados como legado pelo ano de 1789 e pelas lutas de Bonaparte, ainda se faziam sentir na mídia e nos salões, e as conversas que realmente importavam eram tidas a portas fechadas ou em vozes baixas, por trás de leques e de cortinados. É assim, pois, que o escritor Alexandre Dumas, pai (seu filho de mesmo nome viria a ser romancista também), constrói personagens de personalidade fraca, como Villefort; muito más e traiçoeiras, como Danglars e Fernando; vis e cruéis, como Benedetto; e honestas, doces e perseverantes, como os Morrel, Valentina e Alberto. Nenhuma delas, porém, é páreo para a personagem Edmundo, que além de perseverante e muito discreto, é mestre em criar todos os disfarces e fazer todas as jogadas políticas e financeiras possíveis para arruinar a vida de cada um de seus inimigos, até que se rendam ou se matem com veneno ou com tiro.
No melhor estilo de capa e espada, numa época em que os duelos lavavam com sangue a honra do indivíduo, Dumas pai soube aproveitar a sua experiência política para criar com sua genialidade literária um romance que facilmente -- e também tristemente -- retrata muitos cenários políticos a que hoje presenciamos, incluindo o nosso próprio.
Fonte de informações sobre o autor: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alexandre_Dumas,_pai

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Volume 1 - A Ilha do Tesouro - Robert Louis Stevenson


A Ilha do Tesouro é o volume inaugural da Coleção Clássicos da Literatura Juvenil, publicada em 1972 pela Abril Cultural. A obra foi publicada originalmente em 1883, escrita por Robert Louis Stevenson, também autor do célebre O médico e o monstro. Este volume recontado por Aguiar Macedo é um pouco menor: contém 189 páginas, das quais 15 são ilustrações feitas a carvão por Walter Hüne, contra as cerca de 240 da versão original.
O livro é narrado em primeira pessoa, de modo bastante fluido e ágil, levando o leitor a se envolver sem que se dê conta das horas. A história apresenta o adolescente Jim Hawkins e suas aventuras em busca do tesouro do Capitão Flint, já morto e cujo mapa cai em suas mãos através do pirata Bill Bones, que se hospedou durante meses na taverna de seu pai. Como é de se esperar, a narrativa apresenta reviravoltas regulares, e mantém assim o interesse do leitor que, interessado no desfecho deste folhetim, segue sua leitura.
Além de Jim, uma das figuras mais marcantes, senão a principal, é a do cozinheiro do navio "Hispaniola", o perneta Long John Silver. Ao contrário das muitas personagens, que geralmente se apresentam de forma plana e são ou totalmente boas, ou totalmente más, esta personagem possui uma personalidade elaborada, que cria jogos, intrigas e trapaças e se movimenta nos meandros do navio e da ilha conforme o ritmo e o as viradas do destino, construindo de forma bastante interessante o papel de agente duplo, que lida tanto com a tripulação da qual Jim faz parte, quanto com os amotinados que ele originalmente reuniu para tentar tomar posse do tesouro quando fosse a ocasião.
Mais do que apresentar uma história repleta de aventuras e de um jargão especializado da área marítima, A Ilha do Tesouro dá conta de apresentar ao leitor um universo bastante conhecido da história britânica, dado que grande parte de suas riquezas e conquistas se deram pela empresa marítima que tornou a Grã-Bretanha um grande império.
Escrito na segunda metade do século XIX, o livro foi originalmente publicado no folhetim Young Folks, especializado para o público infantil e juvenil. 1883 foi o ano em que o romence foi publicado como livro pela primeira vez. Tendo vivenciado a segunda era da Revolução Industrial, Stevenson valeu-se de História, muita imaginação e toda a experiência de engenharia marítima que possuía para produzir a obra. No trabalho de renarrativização, tendo em mente que o público-alvo é o de crianças e jovens leitores, Aguiar Macedo eliminou um pouco das descrições detalhadas do navio, das manobras de viagem e da ilha, em favor da manutenção da força narrativa oferecida pelo caldo romanesco e aventureiro que o escritor criou e manteve ao longo da história.
De forma concisa, é possível afirmar que a narrativa recontada e apresentada como primeiro volume da série abre as portas para um universo de literatura estrangeira e, mais do que isso, de história social que ajudou a formar a base de muitos leitores através dos tempos.
Fonte de informações sobre o autor: http://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Louis_Stevenson

domingo, 10 de janeiro de 2010

50 livros em 50 semanas


A coleção Clássicos da Literatura Juvenil foi lançada em 1971 pela Abril Cultural. Editada a cada quinzena, a coleção apresentava releituras de narrativas universais, repletas de aventura, drama e mistério, feitas para encantar o jovem leitor, e seu último volume foi lançado já no ano de 1973.

Críticas da educação mais tecnicista que vigorou no Brasil a partir da década de 1970 à parte, a proposta da coleção era oferecer a oportunidade de acessar o universo literário de uma forma mais mastigada e, por isso, as histórias eram recontadas e muitas vezes encurtadas, transformadas não em seu teor narrativo, mas algumas vezes no sabor da linguagem, aclimatada e adaptada à faixa etária do público-alvo. Para chamar ainda mais a atenção, a editoração não deixou por menos: além de exemplares em encadernações coloridas de capa dura, os livros traziam ilustrações em preto-e-branco da narrativa em questão.
Dessa forma, durante quase dois anos, a editora publicou histórias que vão desde A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, a Tom Jones, de Henry Fielding, passando por Mulherzinhas, de Louisa May Alcott e David Copperfield, de Charles Dickens. Além deles, clássicos de nacionalidades francesa, russa e italiana, dentre outras, também figuram na coleção. Dessa trajetória participaram autores nacionais ilustres, como Monteiro Lobato e Clarice Lispector.
Eu mesma, leitora desde muito jovem e apaixonada por livros, felizarda vinda de uma família em que todos sempre leram muito e o pai jornaleiro trazia coisas para casa, só tive o prazer de ter a coleção completa recentemente -- novamente, presente do meu pai, não mais jornaleiro há muito tempo.
No entanto, durante alguns anos de infância e adolescência tive a oportunidade de ler alguns dos volumes, e agora que tenho todos, e sendo eu mesma uma pesquisadora da área de literatura infantil e juvenil, proponho com este blog o seguinte: de que a cada semana eu terei lido um volume da Coleção, na ordem em que foi publicada, e trarei para vocês a resenha resultante desta experiência. O objetivo, além do exercício da leitura e da crítica, é o compartilhamento desta experiência com vocês.
Não sou patrocinada pela editora Abril (rsrsrs) e nem pelos sebos que vendem os livros por aí, e nem pelo Mercado Livre! (rsrsrs). Escrevo porque sempre acreditei que todo material que nos faça ler e que nos amplie o horizonte é digno de nota e, do mesmo modo, é material válido para análise. Vocês, é claro, estão mais do que convidados a fazer esta viagem comigo e a deixar os comentários no blog. No mais, comecemos a jornada num mundo que nunca envelhece.